terça-feira, 13 de julho de 2010

Espiritismo em Época de Transição

Quando uma doutrina é formada por regras



Será que, nos meios espíritas, estamos vivenciando a mesma estagnação evolutiva das igrejas cristãs?



Por que os seguidores do cristianismo pouco ou nada evoluem espiritualmente?
Vejamos uma das razões.
As igrejas cristãs apresentam a seus fiéis o “prato feito” da salvação. Vem tudo prontinho, bastando-lhes obedecer às determinações das suas igrejas.
Ocorre, nas doutrinas formadas por regras ou preceitos, que seus seguidores tendem a procurar meios para fraudá-los, lançando mão de interpretações as mais variadas e de recursos outros que lhes permitam permanecer sob o seu abrigo, mas sem real comprometimento com eles.
É o ser humano sempre querendo levar vantagens.
Esse tipo de situações reflete a antievolução, e é por isso que o mundo cristão pouco progrediu espiritualmente.
Chega, então, o espiritismo, trazendo extraordinário conhecimento libertador, como excelente alavanca para a transformação interior dos seus adeptos, mas, talvez em razão das grandes dificuldades que essa transformação apresenta, muitos acabam substituindo-a pela freqüência ao centro, pelo passe e pela água fluidificada, as atividades na casa, o trabalho mediúnico, a caridade, a direção da instituição; outros a substituem por ações na divulgação do espiritismo, tais como fazer palestras, escrever livros, falar no rádio ou na TV ou, ainda, através da Internet, e tal situação acabou se institucionalizando nos meios espíritas.
Dessa forma, sentem-se abençoados e confiantes em que estão conquistando ingresso em Nosso Lar, após a desencarnação. Preenchem tanto as suas vidas com essas atividades que pouco, ou nada, lhes sobra para cuidar das suas construções interiores.
O que está errado, então, ou o que está faltando para que as pessoas que desenvolvem atividades espíritas, ou freqüentam centros, possam começar a despertar para a necessidade de dinamizar a própria evolução espiritual?
Certamente, está faltando interesse nas lideranças e empenho dos dirigentes no sentido de priorizar atividades que ajudem realmente nesse desiderato.
Nos meios espíritas, costumamos apresentar Jesus e o Evangelho como sendo a nossa bandeira:
- Vamos fazer o Evangelho, vivenciá-lo, colocar Jesus em nossas vidas, etc.
Com esse tipo de foco, acabamos diluindo nossos esforços evolutivos em imagens e palavras: imagens de Jesus e do Evangelho, palavras que já se tornaram jargões sem efeito. E assim, sentindo-nos sob esse pálio, achamos que estamos evoluindo, fazendo nossa reforma interior e nos preparando para habitar planos mais elevados após a desencarnação.
Mas é por causa desse tipo de enganos que Eurípedes Barsanulfo foi convidado a construir o Sanatório Esperança, no mundo espiritual, para atender companheiros que acreditavam ter direito a situações mais favorecidas após a morte, por terem conduzido a bandeira do Evangelho e a imagem de Jesus durante a vida.
Vamos refletir um pouco?
Do que realmente necessitamos para evoluir?
É de uma bandeira ou de atitudes?
Então, ao invés de colocar-nos sob o pálio do evangelho, não é muito mais produtivo procurar viver em função do próprio crescimento como ser espiritual e cósmico? Em vez de viver citando chavões sobre a caridade, esforçar-nos para desenvolver e vivenciar a amorosidade de forma contínua? No lugar de ter sempre na “ponta da língua” alguma exortação doutrinária, fazermos reflexões sobre as dimensões do amor e da humildade e procurar meios para desenvolvê-los nos nossos estados de espírito? No lugar daquela voz “mansificada”, nem sempre autêntica, quando falamos em “coisas sagradas”, deixar fluir a alegria, o contentamento, que é um verdadeiro elixir de vida?
Em tempo de transição não há TEMPO a se perder. É imprescindível e inadiável realizar as transformações interiores a se manifestarem em ATITUDES.
Aquele que deseja verdadeiramente realizar sua transformação interior, adequando-se ao novo tempo, precisa começar a mergulhar fundo nos meandros do orgulho, do egoísmo e da ganância, procurando entender seus mecanismos a fim de buscar as formas mais profícuas para livrar-se deles; procurar conhecer ao menos um pouco das complexidades do psiquismo humano com o fito de aprender a navegar contra as correntezas interiores das construções milenares do próprio espírito.
Mas essas incursões precisam representar prioridade para quem deseja evoluir, porque a geração de valores se dá por ação continuada.
Por isso, para desenvolver valores da alma, é preciso gerar memória. Geralmente só nos lembramos de nossos propósitos evolutivos DEPOIS de praticada a ação, dita a palavra ou permitido sentimentos negativos vibrarem em nosso interior.
Por isso sempre sugerimos trabalhos em grupo; uma discussão sobre determinada atitude, com enfoques diversos e sugestões variadas, ajuda a gerar memória. E quando o grupo se propõe a trazer sempre à mente, durante a semana que se segue, a determinação de desenvolver o valor que estava em pauta, fica bem mais fácil lembrar as decisões tomadas ANTES de praticar a ação, dizer a palavra ou permitir sentimentos negativos, podendo evitá-los.

(Saara Nousiainen)

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